sexta-feira, 13 de junho de 2008

# 15



2.2. Unidade e diversidade da sociedade oitocentista
• A condição burguesa: valores e comportamentos; proliferação do terciário e
incremento das classes médias.
• A condição operária: salários e modos de vida; associativismo e sindicalismo. As
propostas socialistas de transformação revolucionária da sociedade.

A Sociedade de Ordens de Antigo Regime, na qual o nascimento era o principal factor de distinção social, deu lugar à Sociedade de Classes da Época Contemporânea, em que os cidadãos, embora iguais perante a lei, se distinguem pelo dinheiro e por todas as vantagens que este permite conquistar (instrução, profissão prestigiada, lazer).
Deste modo, a unidade do corpo social, conferida pelo igual estatuto jurídico dos cidadãos (fruto das conquistas do Liberalismo), é fragmentada em dois grandes grupos:

- A Burguesia: é o grupo dominante porque detém os meios de produção, muito embora ela própria se divida numa hierarquia de diferentes estatutos.
- O Proletariado: é a classe mais baixa que fornece o trabalho à organização industrial.

Neste tipo de corpo social, os indivíduos de origem humilde podem, apenas pelo seu mérito individual e pelo seu sucesso, ascender aos lugares cimeiros da sociedade, obtendo o seu reconhecimento por todos. São os chamados self-made men.
A capacidade deste tipo de mobilidade ascensional depende sempre da capacidade e salvaguardar o prestígio, a riqueza e o estatuto por parte destes homens e também das suas famílias que devem dar-lhe continuidade e , se possível, reforçar o seu estatuto através de várias estratégias (aquisição de propriedades; fusão, através de casamento, com membros da aristocracia; nobilitação por serviços prestados à Nação; exercício de cargos políticos). Criam-se as chamadas dinastias burguesas.
Paul Rothchild, magnata financeiro americano, um exemplo do self-made man, fundador de uma poderosa dinanstia burguesa

Alta Burguesia: no século XIX, a Burguesia conquistou um estatuto social equiparado estatuto económico que já detinha. Para além de controlar pontos-chave da economia (bancos, transportes, indústrias), começa a exercer cargos políticos (deputados, ministros). Porém, ao nível de comportamento, a nobreza continua a ser o modelo de inspiração. A compra, por parte da Burguesia, de castelos, palácios e o casamento de herdeiros burgueses com membros da antiga Aristocracia revelavam essa tendência para continuar a ver na Aristocracia o modelo para o glamour que era sinónimo de estatuto social.
No entanto, pouco a pouco, a burguesia foi definindo e impondo os seus próprios valores.
O apreço pelo trabalho, o sentido de poupança, a perseverança e a solidariedade familiar são característicos desta nova realidade social burguesa. O orgulho burguês fá-los ter uma crescente consciência de classe.



Classe Média: a classe média constitui o grupo mais heterogéneo e socialmente fluente da sociedade industrial, Englobam o conjunto de profissões que não dependem da força física. Correspondem à afirmação do sector terciário (as profissões ligadas aos serviços).

- Pequenos empresários da Indústria
- Empregados comerciais, que surgem a partir do momento em que as empresas criam novos espaços de emprego para fazer chegar os produtos aos consumidores.
- Profissões Liberais: em vez de ter um patrão, trabalhavam por conta própria. Estavam ligados à ideia de promoção social: médicos, advogados, empregados de escritórios (colarinhos brancos) ou professores eram profissionais que garantiam um futuro seguro e, ao mesmo, tempo uma distinção na sociedade. As necessidades da sociedade (cuidados médicos, apoio jurídico, formação e instrução) valorizaram o seu estatuto.




A Condição Operária

A aplicação do Liberalismo Económico nos países industrializados, ao estabelecer a não-intervenção do Estado, deixou os operários à mercê das leis do mercado. O proletário é aquele que não tem qualquer poder sobre a produção, pois as minas, os caminhos-de-ferro, as fábricas pertencem à classe burguesa que detém o capital. Ele apenas tem os seus filhos (a sua prole) e um salário pelo seu trabalho, o qual aumenta ou diminui consoante a prosperidade da empresa, sem que um salário mínimo seja assegurado.
Neste contexto, os operários da 2ª Revolução Industrial enfrentavam grandes problemas dentro e fora do seu local de trabalho:

- Ausência de redes de solidariedade social
- Elevado risco de acidentes de trabalho e doenças profissionais que podiam levar ao despedimento do operário, sem direito a subsídio e salário.
- Ausência de medidas de apoio social (não existe direito a descanso, férias, horários de trabalho que rondam as 16 horas diárias; subsídio de velhice e desemprego ou invalidez)
- Proibição e repressão de todo o tipo de manifestação social pois as leis defendiam as classes dominantes.
- Contratação de mão-de-obra infantil por ser mais barata, menos reivindicativa e mais ágil.
- Falta de condições no trabalho (poluição, calor e frio extremos, parca iluminação, ausência de cantinas e vestuário apropriado)
- Espaços habitacionais sobrelotados e insalubres
- Pobreza extrema e problemas sociais derivados.


Pirâmide do Capitalismo: a organização da sociedade capitalista do século XIX vista pelos primeiros movimentos operários. Quais as críticas expressas nesta imagem?

Os Movimentos Operários

As primeiras reacções dos operários contra a sua condição miserável foram espontâneas, pouco organizadas e dirigidas. Surgem com os problemas da substituição do trabalho humano pelas máquinas. Por exemplo, em Inglaterra, o movimento de Ned Ludd destruía as máquinas de produção. Com o passar do tempo o movimento operário (acções de luta dos operários) organizou-se de forma eficiente:

- O Associativismo: na falta de redes de solidariedade tradicionais (família, paróquia) as associações de socorros mútuos apoiavam os operários em caso de vicissitude mediante o pagamento de uma quota.

A Associação de Beneficiência "A Voz do Operário" fundada em Lisboa em 1883 mostra o espírito associativista que caracterizou o movimento operário


- O Sindicalismo: no início actuando de forma clandestina, os sindicatos manifestavam-se de forma a pressionar os patronatos (o 1º de Maio de 1886, em Chicago, em que se luta pelas 8 horas de trabalho). Outra forma de luta era a greve. A greve constitui uma forte arma de pressão pois implicava a paragem da produção e dos lucros. Por outro lado mostrava a importância da classe operária no esquema socioeconómico industrial capitalista. As greves trouxeram uma maior negociação entre o operário e o patrão e, no final do século XIX, muito já se tinha conquistado, com a elaboração de legislação social e laboral. Os primeiros movimentos operários surgem no início do século XIX (c. 1824-25) em Inglaterra com as trade unions.

O Socialismo e a Condição Operária

As condições de miséria em que viviam os proletários despertaram a vontade de intervenção social dos pensadores da época. No século XIX, a doutrina socialista emergente criticava a desumanidade do sistema capitalista e propunha uma sociedade mais igualitária e fraterna.

As duas principais correntes do Socialismo eram:

- Socialismo Utópico: o seu principal mentor era o historiador e economista francês Pierre-Joseph Proudhon. Propunha alternativas ao Capitalismo de forma a tornar a sociedade mais justa. Em vez de trabalharem para o patrão, os operários deveriam trabalhar uns para os outros. Defendia que, sem o proletariado, a produção acabaria. Entregando os meio de produção aos operários associados e abolindo o Estado, a exploração do homem pelo homem teria fim.
- Marxismo ou Socialismo Científico: o filósofo alemão Karl Marx analisou historicamente os modos de produção, tendo concluído que a luta de classes é um fio condutor que atravessa todas as épocas. Por isso, Marx defende que a luta de classes é necessária para atingir uma sociedade perfeita em que não haja classes sociais. Esse estado perfeito e final do processo histórico será apelidado de Comunismo (partilha de tudo por toda a comunidade).

Karl Marx e Friedrich Engels expuseram, no Manifesto do Partido Comunista (1848), uma proposta de explicação do processo histórico que tomou o nome de marxismo ou materialismo histórico:

- A Luta de Classes entre opressores e oprimidos é um traço fundamental para fazer a História evoluir.
- A Sociedade Burguesa, dividida entre burgueses e proletários, será destruída quando o proletariado instaurar a “ditadura do proletariado
- Depois de conquistar o poder político, o proletariado retirará o capital à burguesia e o capitalismo será destruído pois estarão todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado Proletário, ou seja, o Comunismo.
- Os operários devem unir-se internacionalmente para fazer a revolução comunista: o lema dos Partidos Comunistas é a expressão que inaugura a obra de Marx e Engels: “Proletários de todo o Mundo: Uni-vos!”

O Domingo Sangrento em 1905: operários e camponeses manifestam-se em frente ao Palácio de inverno do Czar Nicolau II, S.Petersburgo na Rússia, por melhores condições. As tropas carregam sob os manifestantes...
Quais os efeitos desta doutrina marxista no movimento operário?

- Tendo contactado com a miséria operária aquando da sua estadia em Inglaterra, Marx e a sua teoria revestiu um carácter prático que faltava ao Socialismo Proudhoniano, ganhando um forte impacto na segunda metade do século XIX.
Com a ideia da união internacional de todos os operários, Marx redigiu em Londres (1864) os estatutos da I Internacional Operária (Associação Internacional de Trabalhadores). Apoiou a Comuna de Paris de 1871, o primeiro governo operário da História.
Engels foi um dos fundadores da II Internacional em Paris (1889), que nasce após a cisão entre Marx e Edouard Bernstein, quando este defende que a transformação do Estado não deve ser feita através de acções revolucionárias mas sim de forma moderada. Bernestein é o pai da Social Democracia, ideologia que se opõe ao Socialismo Marxista.
As Internacionais (Associações Internacionais Operárias) promoveram a fundação de partidos socialistas na Europa.
A doutrina marxista serviria de enquadramento teórico às transformações que ocorreriam na Rússia em 1917.



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