quarta-feira, 11 de junho de 2008

# 12

As debilidades do Livre-Cambismo

O Liberalismo Económico enquadrava-se perfeitamente na lógica do Capitalismo que dominou o século XIX. Quer nos sectores produtivos, quer nas trocas comerciais, a total liberdade de iniciativa era, em teoria, o quadro mais favorável à criação de riqueza e à obtenção de grandes lucros. Porém as previsões de crescimento igual e harmonioso entre todas as nações não se verificaram, contribuindo o livre-cambismo para colocar dificuldades acrrescidas ao processo de industrialização dos países mais atrasados. Estes viam-se submersos pelos produtos das potências industriais, com os quais não conseguiam competir; tanto no mercado interno, como no externo.
Por sua vez, mesmo nas nações desenvolvidas, o ritmo económico era abalado por crises cíclicas que faziam retrair os negócios e provocavam numerosas falências. Estas crises, que se sucediam numa periodicidade de 6 a 10 anos, eram de um tipo inteiramente novo. Enquanto as crises típicas de Antigo Regime eram provocadas pela escassez agrícola, as crises típicas de Capitalismo deviam-se essencialmente a um excesso de investimento e produção industrial.
Eram por isso consideradas Crises de Superprodução, resultantes da própria dinâmica capitalista, que incita a um investimento constante e ao contínuo crescimento da produção e do lucro.


São as contradições deste sistema capitalista: um sistema que se gere a partir do momento em que a liberdade individual é a base para o crescimento e enriquecimento económico que nunca deverá nem poderá ser controlado pelo Estado. É um sistema que acredita no optimismo próprio do espírito iluminista e liberal!
Foi o economista francês Clément Juglar (1824-1905) quem primeiro estudou estes ciclos económicos e os seus mecanismos. No período de crescimento, quando a procura se sobrepõe à oferta, os preços sobem. Face a este estímulo, instalam-se e ampliam-se as indústrias, recorre-se ao crédito, especula-se na Bolsa. Em breve, porém, por falta de previsão financeira e excesso de investimento, a tendência inverte-se:

1) os stocks acumulam-se nos armazéns (superprodução), fazendo as empresas suspender o fabrico e proceder à redução salarial e ao despedimento de trabalhadores.
2) os preços baixam a fim de dar saída às mercadorias acumuladas. Por vezes, destroem-se stocks para evitar que os preços desçam demasiado.
3) suspendem-se os pagamentos aos bancos, os créditos e os investimentos financeiros. Esta contracção leva ao crash bolsista, à falência de empresas e entidades bancárias.
4) o desemprego crescente faz diminuir o consumo e a produção decai ainda mais.

Estas crises, que podem iniciar-se num ou vários países simultaneamente, propagam-se com rapidez. Dadas as ligações financeiras e comerciais entre as nações dificilmente se escapa a uma grave crise. Entre 1810, ano em que se regista a primeira crise típica do Capitalismo, e 1929, quando estala a mais grave de todas, verificaram-se 15 períodos de depressão económica generalizada, em que se alastrou a miséria social e a agitação política. Vistas pelos economistas liberais como simples reajustamentos económicos, o certo é que as crises cíclicas do capitalismo suscitaram protestos concertados contra os excessos do liberalismo económico. No fim do século XIX, o proteccionismo volta a ganhar terreno e, após 1929, volta-se a discutir a intervenção do Estado na Economia.

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