sexta-feira, 4 de abril de 2008

Nº 2

Continuação do resumo nº1 (post anterior)
4. A hegemonia económica britânica
4.1. O predomínio de um Estado territorial
- Condições do sucesso inglês e vitalidade da cidade de Londres.
O arranque industrial.
- Bloqueio das indústrias europeias e norte-americanas;
controlo da produção e do comércio asiáticos.

O arranque industrial

O processo de industrialização iniciou-se em Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, sob o impulso de um vasto conjunto de factores: os avanços agrícolas, a dinâmica demográfica, o alargamento dos mercados, a capacidade empreendedora dos britânicos e, é claro, o avanço tecnológico.
Nesta época, uma cadeia de inovações revolucionou a indústria. A aplicação de um melhoramento técnico numa das fases de fabrico gerava quase de imediato desequilíbrios na produção, que só podiam ser corrigidos através de novos inventos e adaptações. O mundo em que hoje vivemos mostra-nos bem que uma vez desencadeada, “a inovação tecnológica é um processo que tende a acelerar-se” (T.S. Ashton).
Um exemplo claro desta espiral tecnológica é-nos fornecido pela indústria têxtil que liderou o take off industrial inglês.

O sector algodoeiro

Foi o aumento da procura, interna e externa, bem como a abundância de matéria-prima, proporcionada pelas colónias, que impulsionaram os progressos no sector algodoeiro. O ciclo terá começado com a invenção da lançadeira volante por John Kay. Era um mecanismo simples que permitia aumentar a largura dos tecidos e multiplicava por 10 a produtividade do tecelão. Uma vez difundida, não tardou que escasseasse o fio, já que os processos de fiação se mantinham os mesmos, deixando, muitas vezes, os teares parados.
Uma nova máquina de fiar, a Jenny, veio solucionar o problema. Inventada por John Hargreaves, em 1765, permitia a uma só fiadeira trabalhar sete ou oito fios ao mesmo tempo. Mais tarde, este número elevou-se para 80 fios, o que provocou um novo desequilíbrio entre as duas fases produtivas, desta vez de sentido inverso.
A dinâmica assim adquirida repercutiu-se em novos melhoramentos, quer na tecelagem (teares mecânicos), quer na fiação e na estampagem, originando um inédito aumento de produtividade e de produção: em 1780, a indústria algodoeira britânica transformava 5 milhões de libras de algodão puro; dez anos depois, esta cifra eleva-se para os 15 milhões, duplicando sucessivamente nas décadas seguintes. Se houve um take off (arranque industrial) a seguir a 1787, o algodão foi efectivamente o responsável (Fernand Braudel).
A simplicidade das primeiras máquinas têxteis e o seu reduzido custo permitiram o estabelecimento inicial de pequenas empresas, de capital muito modesto.
Tendo em conta os lucros elevados (mais de 20%), as primeiras unidades industriais puderam crescer rapidamente, transformando os artesãos mais expeditos em industriais bem-sucedidos.


DOC.1 A evolução da produção têxtil; abundância de matérias-primas

A metalurgia

O desenvolvimento do sector têxtil foi acompanhado, de perto, pelo da metalurgia que, fornecendo máquinas e equipamentos vários, se tornava indispensável aos progressos da industrialização.
No início do século XVIII, Abraham Darby (1671-1717), ferreiro de Birmingham, resolveu o problema do combustível necessário a este sector, utilizando, na fusão do ferro, o coque em vez de carvão vegetal. Obtido a partir da hulha, muito abundante nos subsolos ingleses, o uso do coque não exigia, como o carvão vegetal, o abate maciço de árvores, questão muito alertada pelo Parlamento inglês, que colocava grandes entraves à expansão industrial.
A maior capacidade calorífica do coque, a aplicação de foles para ventilação dos altos-fornos e outros melhoramentos introduzidos nas fundições permitiram melhorar a qualidade e aumentar a produção.
Em breve, o ferro, agora mais barato e resistente, começa a substituir, com vantagem, outros materiais.
Ainda no século XVIII é inaugurada a primeira ponte metálica, em Coalbrookedale (hoje classificada pela UNESCO como património da Humanidade). No século XIX, o sector metalúrgico intensifica-se. A partir da década de 1830, a metalurgia, ultrapassando o têxtil, tornou-se o principal sector industrial.

Doc.2 Desenvolvimento da indústria têxtil, apoiado na Metalurgia

Doc.3 A Ponte de Coalbrookdale (inaug.1779), símbolo da Revolução Industrial


A força do vapor

Em todo este processo de modernização, coube ao engenheiro escocês James Watt um papel central.
Há já muito tempo que se procurava aproveitar a força expansiva do vapor como força motriz. No entanto, permaneciam por resolver diversos problemas técnicos, pelo que as poucas máquinas existentes pouca aplicação tinham .
Estabelecido em Glasgow com uma oficina de instrumentos matemáticos, Watt foi, certa vez, chamado para reparar uma máquina de Newcomen, engenho a vapor utilizado para bombear água das minas. A partir de então, este escocês aplicou-se a conceber uma bomba de fogo, sem os defeitos das anteriores. Em 1765, registou a primeira patente, que melhorou nos anos seguintes. A máquina a vapor de James Watt constituiu a primeira fonte de energia “artificial” da História. Com ela foi possível mover teares, martelos, locomotivas e todo o tipo de máquinas que, anteriormente, dependiam do trabalho humano ou das forças da Natureza.
Um século depois da invenção de Watt, as máquinas a vapor efectuavam, na Grã-Bretanha, um volume de trabalho que teria exigido, anteriormente, cerca de 40 milhões de homens.
A manufactura cedera lugar à maquinofactura, cerne da Revolução Industrial.

Doc.4 Máquina de Newcomen (para extrair água das minas de carvão)


Por ordem decrescente:

Doc 5 A máquina de James Watt

Doc 6 A força do vapor contrastando com a força animal

Doc 7 A aplicação da máquina a vapor no sector têxtil


Um tempo de mudanças sociais

As transformações tecnológicas, que caracterizam a Revolução Industrial, estenderam-se muito para além do sector económico. Elas criaram um mundo novo, profundamente diferente das sociedades tradicionais.
Como resultado desta revolução, grandes vagas de camponeses migraram para as cidades, que cresceram negras do fumo das fábricas e fixam-se em bairros pobres, de habitação operária; uma nova classe, a burguesia industrial, elevou-se ao topo da sociedade e do poder político, impondo os seus valores, a sua cultura e a sua forma de viver; os transportes aceleraram-se e encurtaram distâncias, fazendo circular mercadorias, homens, notícias, ideias e hábitos novos.
Pioneira de todas estas transformações, único país a assumir o “take off” no século XVIII, a Grã-Bretanha fixa-se na vanguarda europeia, guiando-a em direcção a uma época nova: a do Capitalismo Industrial.

Por ordem decrescente:

Doc 8 A paisagem industrial na Inglaterra de finais do século XVIII

Doc 9 e 10 A revolução nos transportes na era do vapor

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